quinta-feira, 13 de março de 2014

Homenagem

A casa de Sorinho está triste

Domingo, cedo, antes mesmo do raiar do sol, ela chegava ao Mercado Público de Messias Targino, para abrir o seu pequeno comércio de venda de alimentos, que a cidade toda conhecia como o “Café de Áurea”. A cidade acordava junto com ela, naquele burburinho da feira, que sempre acontecia aos domingos. Feirantes de Messias Targino e também chegados de outros Municípios, principalmente de Patu, começavam a montar as suas bancas e barracas de venda, e, entre um trabalho e outro, quase todos iam ao Café de Áurea, provar da comida caseira que ela preparava com tanto carinho.

O pequeno restaurante era modesto, mas a simplicidade das suas acomodações contrastava com a grandeza do sabor que Áurea Almeida dava aos alimentos que preparava. A clientela de Áurea também mostrava a beleza daquele dom que Deus lhe havia dado. Além do povo mais humilde, autoridades em geral faziam ali as suas refeições. Padres, então, por lá passaram muitos, durante anos, durante décadas. José Kruza, Eurico, Antônio, Silvano, Tarcísio, foram alguns dos religiosos da Paróquia que desfrutaram não apenas da comida, mas da companhia agradável, simples e sincera de Áurea Almeida, a quem carinhosamente aprendemos a chamar de “Tia Áurea”, “Madrinha Áurea” ou simplesmente “Madrinha”.

Ali, no seu Café, tia Áurea não apenas vendia alimentos. De bom coração, ela também alimentava gratuitamente muitas crianças da sua família, que aos domingos se dirigiam até lá sabendo que, além da bênção divina que ela desejava, encontrariam também um prato de comida que, para o povo pobre deste sertão, na época fazia muita diferença. E eu estava entre esses meninos que eram bem acolhidos por “Madrinha” todos os domingos.

Fora desse ambiente de trabalho que ela escolheu, tia Áurea gostava mais ainda de ficar naquele pedaço de terra que lhe sobrou por herança dos seus pais Manoel Fernandes Jales (“Sorinho”) e Maria Cândida de Almeida. O Junco de Cima foi um pouco do que restou aos familiares de Sorinho depois que ele, num gesto de grandeza, doou para a fundação do Povoado do Junco, hoje Messias Targino, grande parte das terras onde agora se situa a cidade.

No Junco de Cima, Áurea era feliz perto de muitos irmãos, sobrinhos e outros parentes. Antônia Almeida, ou “tia Toinha”, sua companheira inseparável, fez-lhe companhia por toda uma vida. Não teve tempo de lhe esperar até o fim, pois a morte lhe chegou primeiro.

No Junco de Cima, tia Áurea cuidava das coisas simples do campo, e sempre com muita fé em Deus, era pessoa muito feliz, de bem com a vida.

Aos sábados bem cedo, as irmãs Áurea, Noêmia, Antônia e Sebastiana se juntavam a outras cristãs-católicas de Messias Targino e juntas cantavam e rezavam o Ofício de Nossa Senhora das Graças. Da rua se ouvia o belo coral de vozes que ecoavam do interior da Capela de Nossa Senhora das Graças. Eram vozes que louvavam a Deus e pediam a sua proteção por intercessão da Virgem Maria. Fizeram isso por muito tempo, praticamente desde que o Povoado foi criado até meados dos anos oitenta do século passado.

Por opção de vida pessoal, as irmãs Áurea e Antônia Almeida preferiram não se casar. Não tiveram filhos biológicos. Mas a vida se encarregou de lhes dar filhos e uma grande e bonita família. Juntas, foram responsáveis pela criação de Novinho, filho do irmão Torrola, que teve assim o privilégio de ter três mães: a biológica e as irmãs Toinha e Áurea.

Paulina, sobrinha das duas inseparáveis irmãs, filha de Pelópidas Pinto e Sebastiana Maria de Almeida, foi outro maravilhoso presente na vida de tia Áurea, que lhe adotou cedo como filha e as duas mantiveram, até agora, essa relação divina e fraterna de mãe e filha.

A essa família se juntaram Luiz, Ismael, Euzélia, Gabriela, Neto, Rômulo e o nosso querido e saudoso Francisco Tomaz, ou Chico Tomaz, irmão de Áurea. A casa de Sorinho voltava a ficar cheia, voltava a ter uma grande família. Ali pertinho, o irmão de Áurea, José Manoel de Almeida, a esposa Maria das Graças e os filhos Aíla e José Manoel de Almeida Filho também participavam desse convívio, ao qual se juntou, por muitos anos, o também saudoso Otoniel Tomaz de Almeida, que, embora tivesse a casa grande dos pais João Tomaz de Almeida e Ozelita, preferiu ficar perto das tias Áurea e Toinha, sendo também adotado por elas como mais um filho, tamanho era o carinho que existia nessa relação familiar.

Quando todos se juntavam, os da casa grande de Sorinho e os outros da família que chegavam, de longe da casa de Áurea se ouvia muito barulho, pois nossa família sempre gostou de falar muito e em bom tom; mas de perto se via muito afeto, muito respeito, muito carinho e uma forte presença do espírito de família.

Hoje, desde a zero hora, mais uma voz se calou no Junco de Cima. Mais um, da casa de Manoel Fernandes Jales, foi chamado à outra vida, depois de uma abençoada existência nesse mundo terreno.

Hoje, depois de noventa e três anos de vida, Áurea foi se juntar aos pais Manoel Fernandes Jales e Maria Cândida e aos irmãos João Tomaz de Almeida, Noêmia Maria de Almeida, Francisco Tomaz, Tomaz Manoel de Almeida, José Manoel de Almeida, Sebastiana Maria de Almeida e Antônia Almeida. Para a alegria deles, tivemos que ficar tristes, pois, por mais que a morte seja um evento certo e esperado, ela, com seus mistérios, sempre nos deixa inconformados, principalmente quando a pessoa chamada para o outro plano é alguém a quem queremos muito bem.

A partir de hoje, seus irmãos Alcides, Dedé e Torrola e todos nós, da sua família, além de muitos amigos que conquistastes, passaremos a sentir a sua ausência.

Conforta-nos, porém, a certeza de que, pela vida de fé, de temor a Deus, de trabalho e de bom coração que teve Áurea, ela será recebida pelo Senhor Deus Nosso Pai, e terá, como recompensa, a vida eterna, no Reino do Céu.

A você, tia Áurea, queremos agradecer, como família, por toda a atenção e por todo o carinho que sempre teve conosco.

Vá com Deus e descanse na paz destinada aos justos e às pessoas de bem!

Alcimar Antônio de Souza
Filho de Maria José de Souza (sobrinha de Áurea)
Neto de Noêmia Maria de Almeida (irmã de Áurea)

Um comentário:

Unknown disse...

O OCORRIDO SEM DÚVIDAS É TRISTE, MAS VC E OS DEMAIS DA FAMÍLIA DEVEM ALEGRAR-SE E AGRADECER A DEUS NÃO SÓ PELA TIA QUE TIVERAM MAS PELA CONJUNTURA FAMILIAR QUE FOI MONTADA NO DECORRER DOS ANOS, FAMÍLIA ESSA QUE TENHO ORGULHO DE DIZER QUE CONHEÇO DESDE MINHA INFÂNCIA, POR TER CONHECIDO OTONIEL, POR TER SIDO AMIGO DE INFÂNCIA E COLEGA DE CLASSE DO JOSÉ E DA AILA, POR TER SIDO ALUNO DA WAGNA, POR TER ESTUDADO CATECISMO COM MARIA DE NOEME, ENFIM EMBORA ESTEJA MORANDO DISTANTE TENHO O JUNCO NO MEU CORAÇÃO E ESTA FAMÍLIA TÃO MARAVILHOSA ESTÁ NA HISTÓRIA DA CIDADE E DA MINHA INFÂNCIA.

EU ME CHAMO SIDRONIO JR, SOU NETO DE MANOEL SALES E DE BALBINO VASSOUREIRO, ESPERO QUE VC LEMBRE DE MIM.